Bakhtin e Heidegger: caminhos para a
compreensão e interpretação do acontecimento do ser na linguagem
Resumo
O presente
estudo tem como objetivo colocar em diálogo os caminhos, sinalizados por
Bakhtin e Heidegger, para a compreensão e interpretação do acontecimento do ser
na linguagem, os quais se encontram esboçados nos fundamentos ético-filosóficos
de suas obras, particularmente Por uma
filosofia do ato (BAKHTIN, 1920-24/1997), El Ser yelTiempo (HEIDEGGER,1927/2010) Ontologia (Hermenêutica da Facticidade) ((HEIDEGGER,1923/2012 ), Sobre a questão do pensamento
(HEIDEGGER, 1969/2009) e Aportes a la
filosofia acerca del evento (HEIDEGGER,1936-38/2006). Para esse fim
examinaremos, inicialmente, a proposta comum, a ambos os filósofos, de instituir uma filosofia primeira, ou seja, de
colocar, a filosofia, no caminho de sua verdadeira vocação, que pode ser
sintetizada na pergunta acerca da origem do sentido, o que equivale a perguntar
sobre as vias de acesso à realidade que toda a linguagem e, por conseguinte,
todo o discurso/texto/enunciado comportam. Para fundamentar os caminhos de uma arquitetônica e hermenêutica da facticidade ontológicas, Bakhtin e Heidegger,
respectivamente, revisitam criticamente
diversas tradições, conforme já referido por mim em Origens filosóficas da ética em Bakhtin: releituras da metafisica e da
fenomenologia ontológico-hermenêutica (SAMPAIO, 2012) e Dimensão
ontológico-hermenêutica no pensamento ético bakhtiniano e heideggeriano e
construção do sentido(SAMPAIO, 2013). No âmbito da proposta de uma
filosofia primeira serão examinados também o caráter ontológico do ser-aí, a
essência da verdade e o papel do pensamento, do materialismo e das consciências
histórica e filosófica para a interpretação do ato ético concretizado no acontecimento
do ser. Se por um lado, como sugere
Bakhtin (1977), o materialismo histórico seria uma possível alternativa, para
uma consciência que luta e age, para realizar sua saída de dentro do mundo
teórico e possibilitar a entrada no mundo vivo da ação responsável realizada
ou, por outro, como contra-argumenta Heidegger (2012), as consciências
histórica e filosófica, ao se reduzirem ao modo de ser público da vida,
permanecendo apenas com uma determinada interpretação de si mesmas, de modo
totalmente objetivo, que papel restaria à filosofia e à história para a
compreensão e interpretação do acontecimento do ser? A resposta a esta questão
parece apontar para uma compreensão/interpretação ontológico-hermenêutica cujos
caminhos tentaremos desvelar.
Palavras-chave: Bakhtin; Heidegger; Acontecimento do ser; Linguagem; Hermenêutica.