Adail Ubirajara Sobral / UCPel

Considerações sobre heterodiscursividade, gêneros e projeto enunciativo

Resumo
Se no interior de cada língua há distintas variedades entrelaçadas que se usam em distintos contextos, pode-se sugerir, partindo de teorias de Bakhtin e o Círculo, que, se aprendemos línguas em termos de gêneros do enunciado, há um entrelaçamento entre as línguas em aquisição que passa pelo domínio de um repertório de gêneros, que podem aproximar-se ou se afastar em línguas distintas, a depender tanto do grau de formalização de cada um dos gêneros (uma vez que não há “universais genéricos” ou gêneros universais, apesar de certas semelhanças de situações enunciativas) como da formação social e histórica das línguas envolvidas (apesar das proximidades; cf. SOBRAL, 2011). Se assim for, pode-se sugerir que aprendemos a contextualizar os usos do sistema via gêneros, o lócus da interação entre variação e constância paradigmática, e para isso recorremos a todos os saberes, de toda e qualquer língua envolvida, em sua diversidade e especificidade. Essa heterodiscursividade (BAKHTIN, 2015) está vinculada com a inovação nos gêneros, pois o domínio de variedades e de idiomas torna o falante mais apto a inovar, por dispor de mais recursos. Isso a meu ver reforça a sugestão de não haver, na prática de aquisição de uma segunda língua, independência ou compartimentação entre os idiomas envolvidos, mas antes formas de integração de gêneros segundo um repertorio de que o sujeito seleciona, no contexto específico de cada língua, aquilo que serve ao seu propósito enunciativo. Nesses termos, não haveria na variação no interior da língua e na influência entre línguas itens usados com o mesmo peso semântico, uma vez que, de uma perspectiva dialógica, toda escolha do que e de como dizer implica um posicionamento do sujeito (seja ou voluntário) diante do outro no âmbito da sociedade e da história.