Recepção
de Bakhtin e o Círculo: modos de ler
Resumo
No universo das teorias sobre a tradução, uma
vertente nos interessa particularmente neste trabalho. Trata-se da que
compreende a tradução como a “relação entre um texto de partida e um contexto
de chegada” ou ainda como “um modo de ler um texto em dado contexto”. Nesse
sentido, e como consequência, é possível afirmar que a “retradução é toda
reescritura de um texto-fonte, que coexiste e se relaciona com outras reescrituras desse mesmo texto-fonte,
estabelecendo com elas uma rede de modos plurais de (re)lê-lo e (re)escrevê-lo,
gesto que é, finalmente, uma crítica. [...] a (re)tradução [...] procura
evidenciar que uma (re)tradução é um gesto de acréscimo: acréscimo de novos
modos de ler e escrever aquele texto no espaço da (re)tradução. (MATOS, T.;
FALEIROS, A. A noção de retradução nos estudos da tradução: um percurso teórico.
Revista Letras Raras, vol.3, n.2, p.54).
Essas reflexões, voltadas para a compreensão das (re)traduções literárias,
podem servir de ponto de partida para uma análise da recepção de Bakhtin e do Círculo
no Brasil. O estudo, entretanto, não visa discutir as traduções em si, mas a
maneira como prefácios, apresentações, introduções e posfácios apontam para
diferentes modos de leitura, em consonância com o espaço-tempo em que as
traduções/retraduções são feitas. Este trabalho, que integra uma das vertentes
do projeto de pesquisa/CNPq, intitulado Fundamentos
e desdobramentos da perspectiva dialógica para a análise de discursos verbais e
verbo visuais, tem como objetivo esclarecer algumas particularidades assumidas pelo pensamento bakhtiniano
no Brasil, considerando o conjunto textos introdutórios presentes nas obras de Bakhtin e do Círculo
traduzidas no Brasil. Serão discutidos, nesta apresentação, alguns resultados, a partir das duas primeiras
obras aqui publicadas: Marxismo e
filosofia da linguagem: problemas fundamentais
do método sociológico na ciência da linguagem (1979) e Problemas da poética de Dostoiévski (1981). Os textos sobre os
quais nos deteremos são os assinados por Roman Jakobson, Marina Yaguello e Paulo Bezerra. Ainda que
muito já se tenha dito sobre a recepção da obra de Bakhtin e o Círculo no Ocidente, consideramos que o estudo
desses textos-guia tanto esclarecem como enriquecem a compreensão do contexto da recepção das obras no Brasil e a
prática da (re)tradução.