Maria Inês Batista Campos / USP

Por uma arquitetônica dos manuais didáticos: o ensino da dissertação

Resumo
Este trabalho parte da hipótese de que os manuais didáticos de português, com foco no ensino da produção de dissertação para a educação básica, recuperam influências herdadas de manuais franceses do final do século XIX e início do século XX. Esse tipo de composição teve início oficialmente na França a partir de 1880 e, no Brasil, segundo Razzini (2000), passou a ocupar parte do currículo oficial do Colégio Pedro II (Rio de Janeiro), especialmente no final do Segundo Império (1840-1889). A partir desses diferentes espaços sócio-político- culturais, vamos reconhecer semelhanças entre manuais franceses e brasileiros, uma vez que seguem sob a regência modelar de uma cultura escolar estabelecida. O objetivo desta comunicação é analisar dois compêndios que destacam o ensino da dissertação no ensino básico: Études pratiques de composition française (1891), de Gustave Lanson, e Livro de composição (1899), de Olavo Bilac e Manoel Bonfim. Quem eram os interlocutores desses livros nas escolas? Que concepções teóricas embasaram as propostas didáticas? Que elementos do gênero perduram ainda hoje no ensino da escola básica? Partiremos do conceito de arquitetônica concebido por M. Bakhtin em Para uma filosofia do ato responsável (1920-1924) e O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária (1924). Para o filósofo da linguagem, “a arquitetônica está destinada a descrever uma atividade: as relações que ela organiza estão sempre em estado de tensão dinâmica” (HOLQUIST, LIAPUNOV, 1990, p. XXIV). Nesse sentido, a arquitetônica é a ciência das relações, reportando-se aos fluxos que constituem um evento significativo. Esta análise comparativa buscará mostrar sob o ângulo histórico como os manuais didáticos encaminhavam o ensino da dissertação na formação básica francesa e brasileira.

Palavras-chave: arquitetônica; cultura; manuais didáticos; dissertação