Angela Maria Rubel Fanini

O fundamento da alteridade em Mikahil Bakhtin e em Martin Heidegger: aproximações entre dialogismo e alétheia

 Angela Maria Rubel Fanini -  rubel@utfpr.edu.br  

     Esta comunicação visa levantar alguns pontos em comum entre o pensamento de Martin Heidegger (1889-1976) e de Mikahil Bakhtin (1895-1975) e do Círculo. Em virtude da complexidade de tal objetivo, salientamos que estas elucubrações se encontram em nível de discussão no Grupo de pesquisa “Discursos sobre trabalho, tecnologia e identidades” e que não são definitivas e precisas. Estamos adentrando, aos poucos, as obras tanto do Círculo quanto de Heidegger e tentando aproximar alguns pontos comuns no que tange à questão do sujeito, do objeto e da linguagem na tradição epistemológica ocidental que esses autores mobilizam. Devido à extensão dos temas é impossível se chegar a conclusões fechadas. O máximo que se consegue são reflexões sobre tal trajetória do pensamento desses autores. Essa aproximação, no entanto, justifica-se por um objetivo mais pragmático que consiste em levar essa reflexão para a vida cotidiana dos envolvidos na pesquisa tanto em suas ações dentro da academia quanto fora dela, pois não vemos sentido em uma pesquisa que não alie vida e trabalho, teoria e prática. Nesse passo, as reflexões adquirem um valor político e ético para a vida concreta e não se limitam a uma ordem do discurso acadêmico e também não pretendem atingir uma precisão e um rigor científicos. Se objetivassem atingir tal acurácia estariam, com certeza, indo de encontro às ideias expostas tanto em relação à obra do Círculo quanto a de Heidegger que problematizam a linguagem técnica, correta e definitiva sobre o mundo. 

     Heidegger é um filósofo alemão do século XX que discute, sobretudo, a questão da técnica moderna. Provavelmente, essa discussão tenha também a ver com o local geográfico e o tempo em que escreve. A problematização da técnica moderna está inserida em um determinado cronotopo, ou seja, no século XX e na Alemanha. Entretanto, para responder a esse cronotopo imediato, lança mão de um saber e uma prática humanas que remontam aos antigos gregos. Sua obra responde ao seu tempo, mobilizando também uma temporalidade maior. Aqui já encontramos uma ideia fundamental de Bakhtin, ou seja, as enunciações são uma resposta ao seu tempo, acionando também contextos de longa duração. A obra heideggeriana volta-se para o futuro à medida que se preocupa com o destino humano e visa fornecer uma possível saída para o fechamento em que se encontram os seus contemporâneos. Também aqui vemos se aproximarem os pensadores uma vez que Bakhtin escreve como resposta a uma situação de extremo autoritarismo stalinista e sua obra se preocupa em encontrar uma saída para o enclausuramento em que vivem os homens em período tão funesto da História. 

     O pensador alemão faz uma diferença entre a técnica antiga e a técnica moderna. Ambas desocultam o ser das coisas, ambas são um envio para o homem, ambas tornam o homem cocriador de coisas. São também uma revolta do homem contra a Diké, reino da Physis que assujeita o homem. A técnica antiga, no entanto, é também poiesis no sentido de desvelar as coisas, tornando-as vizinhas, familiares ao homem que não visa apenas transformá-las em objetos manipuláveis. Um exemplo clássico dado pelo pensador alemão que pode diferenciar as técnicas é o caso da construção da ponte sobre um rio em que o rio lá permanece, não sendo dominado e assujeitado e de uma usina hidrelétrica em que o rio é submetido a ela, alterando-se o seu curso. A técnica deveria colocar o homem no centro da criação, tornando-o obreiro das coisas também, mas o obreiro que respeita, zela, avizinha-se, familiariza-se. No entanto, leva o homem a ser tão violento como a Diké, assujeitando, dominando, violentando o mundo à sua volta. Em vez de haver uma eterna luta, mas no sentido de um bom combate entre a terra, domínio do humano, e o mundo, sob a hegemonia da Physis, ou seja, entre o homem e a Physis, há um gosto pelo controle, há uma determinabilidade do violento em que o homem passa a se instituir. Não há uma eterna agonística entre a terra e o mundo, mas uma violência que prepondera daquela sobre este. Heidegger é pessimista em relação à técnica moderna, sobretudo a que se desenvolve de 200 anos para cá, inclusive em entrevista, afirmando que dela “já apenas um Deus pode nos salvar”. Muitas são as referências à energia nuclear e à bomba atômica em sua obra, demonstrando claramente que seu pensamento também se frutifica, ancorando-se em seu tempo e espaço históricos como já afirmado. Heidegger vincula a técnica moderna a uma linguagem técnica que estaria a se tornar hegemônica na modernidade. O filósofo é pessimista e relação à técnica moderna e a vê responsável por um estreitamento de horizontes para o ser humano. Vincula ainda a questão da técnica moderna e da linguagem técnica ao pensamento metafísico ocidental que desde a antiguidade grega até a modernidade tem se fortalecido. Para ele, esse pensamento metafísico ocidental promove o homem a um sujeito cognoscente que a partir de uma racionalidade de cálculo percebe o que está fora de si de forma objetificante. Nessa perspectiva, o homem surge como sujeito que assujeita tudo e todos à condição de objeto conhecível, nomeável, definível e consequentemente que pode ser dominado. Nesse processo, o próprio homem é desvendado pela técnica moderna como objeto. O homem de sujeito passa a objeto, caindo em uma armadilha do próprio pensamento técnico e linguagem técnica que o dominam. O homem já não é mais senhor da técnica e da linguagem, mas seu vassalo. Nisso reside o esquecimento do ser e a morte do homem como ser pensante e de linguagem.

     Nessa linha, tanto me relaciono comigo quanto com o outro a partir de uma perspectiva objetificante. Essa perspectiva de se relacionar com o outro é unidimensional, é monológica e redutora. O outro passa a ser conhecido, dominado, neutralizando-se a sua diferença, a sua alteridade. Tudo se pode conhecer, tudo se pode dominar pelo pensar técnico e pela linguagem técnica, objetiva, clara, precisa. Essa percepção da natureza, do homem, dos animais etc se exacerba com a modernidade em que, a partir de uma visão científica e racional do mundo, o paradigma de Francis Bacon, o homem se destaca dos outros seres como o ser que os domina a partir de um pensar calculístico que opera por intermédio de mensurações, padronizações, generalizações. Essa visão racional calculística impera na sociedade moderna e contemporânea ao pensador e é responsável por colocar tudo à disposição da produção material da sociedade. Tudo vira um recurso para o homem produzir mais e mais. Nessa perspectiva não há lugar para um pensar reflexivo e para uma linguagem que não seja ela também técnica e objetificante. Heidegger vê a linguagem técnica como uma violência às coisas, pois só desvela e desoculta as coisas de um modo unidimensional, representando-as como objetos dominados e definidos. Longe se está de deixar com que o outro se apresente e com ele dialogar, respeitando-o. Nessa perspectiva, falo sobre o outro, mas nunca com o outro. Essa perspectiva sobre a linguagem técnica que está a serviço da técnica moderna que a tudo desoculta como recurso dominável, podemos aproximar da dimensão de Bakhtin e do Círculo quando na obra dos pensadores russos levanta-se a questão sobre linguagem, sujeito e objeto, sobretudo a partir da crítica ao idealismo subjetivista e ao objetivismo abstrato, dois modos bastante relevantes na tradição ocidental de perceber a relação entre essas três esferas. O Círculo opõe-se ao idealismo subjetivista, vinculado sobremaneira à ideologia iluminista e liberal que destaca o sujeito como fundante de sua fala, escrita, escala de valores, visão de mundo, ética, enfatizando uma perspectiva relativista. Também se contrapõe ao objetivismo abstrato que aposta na força dos sistemas culturais, lógicos, formais, linguísticos e éticos que se impõem sobre os sujeitos, assujeitandoos. Aqui, há uma aproximação muito grande com Heidegger à medida que o Círculo se opõe a uma visão de linguagem objetiva, clara que a tudo define e nomeia de modo definitivo, justificando-se na leitura, na análise, na tradução e na interpretação corretas. As forças centrípetas que estabilizam, centralizam e tendem à objetividade na linguagem são sempre enfraquecidas pelas forças centrífugas resultantes de conflitos e dimensões axiológicas contraditórias. Ambos não acreditam em uma linguagem que domina o objeto a partir de um método correto e lógico.

     Para o Círculo, os valores culturais, a linguagem, a perspectiva ética e política são construções dinâmicas dadas nas interrelações entre os sujeitos concretos. Não há uma polarização entre o sujeito e o sistema. Os homens, em dadas condições sociais concretas, mobilizam os sistemas já existentes, ressignificando-os e deslocando-os conforme as circunstâncias em que se acham inseridos. A dimensão intersubjetiva neutraliza essa polarização. O sujeito surge, e é, em parte, fonte de seu dizer, mas também adquire essa subjetividade à medida que se encontra e desencontra com o outro, ou seja, passa a existir em contato com o outro, mas sem deixar de ser diferente do outro. Essa relação com o outro é sempre dialógica, ou seja, ocorre sempre a partir de uma dupla orientação, em que tanto um quanto o outro se encontram e se desencontram. Nesse sentido, Heidegger e o Círculo também se aproximam visto que para ambos a perspectiva polarizada ora no sujeito isolado, ora no sistema leva necessariamente a uma redução da dimensão humana. Heidegger destaca a importância do outro, da apresentação desse outro e não de sua representação objetificante dada por um sujeito racional munido de um método lógico capaz de apropriar-se desse outro de modo definitivo.

       Nesse momento, adentramos a concepção de alétheia que Heidegger extrai de um fragmento do pensador grego Heráclito. A alétheia contrapõe a apresentação da coisa à representação da coisa. O pensador alemão critica o pensamento ocidental por ter se esforçado por representar o mundo sem deixá-lo se apresentar em um movimento ao mesmo tempo de velamento e desvelamento. Nessa perspectiva, o desocultar do outro não depende somente de mim, mas também do outro. Nesse sentido, podemos aproximar essa relação dual da categoria do dialogismo em que há sempre dois campos de força se enfrentando. No pensar e linguagem técnicas tenho a representação objetal do outro; já em um pensar reflexivo em uma linguagem reflexiva e poética (aqui Heidegger não se refere ao gênero poesia e sim a uma linguagem não representacional), há a possibilidade desse outro emergir como outro e como ser e não como objeto. Assim, a linguagem não é só um domínio sobre o objeto, sobre o mundo, mas um avizinhar-se, um familiarizar-se com ele, não o subjulgando. Heidegger e o Círculo se avizinham à medida que o sujeito nunca chega ao objeto a partir de uma linguagem objetiva, denominando-o plenamente, mas o faz a partir de um processo tenso, complicado, dinâmico que não garante uma objetivação e uma precisão. Para o Círculo só Adão mítico nomeou as coisas de modo originário sem a interferência das vozes dos outros, visto que estava só. Vemos que Heidegger também se afasta de uma perspectiva de clareza da linguagem, sobretudo a linguagem técnica, que não garante essa ida do sujeito ao objeto, denominando-o plenamente. Heidegger vai falar em escutar a linguagem e não utilizá-la como se fosse um código dominável. Essa escuta nos aproxima desse outro visto que para escutar preciso escutar alguém diferente de mim. Aqui, pensamos que a questão da alteridade é de suma importância e é outro ponto de contato com o Círculo para quem a alteridade é fundante, pois sem ela desmorona a dimensão do intersubjetivo, do dialógico, das lutas entre as forças centrípetas e centrífugas, da carnavalização, da polifonia, das tensões entre os discursos citantes e citados, conceitos chaves para os teóricos russos. 

       O filósofo alemão rompe com a relação entre sujeito e objeto da tradição epistemológica ocidental; aquele no domínio deste, e coloca o homem como dasein, ou seja, o homem no mundo, arrojado, jogado no mundo e no impreciso, não destacado totalmente dele, podendo assujeitá-lo. Critica tanto o idealismo racionalista que destaca o sujeito cognoscente racional em relação ao objeto que pode ser dominado quanto o humanismo materialismo em que as condições materiais de existência imediatas determinam a consciência do homem. Aí, no materialismo, o processo é externo, ou seja, as condições concretas da existência determinam o homem, mas este, mediante um processo de tomada de consciência dessa materialidade, deve-as alterar para criar outra realidade social. Estamos também no domínio, em última instância, desse sujeito chamado a dominar as coisas. Aqui há uma contradição, pois se o sujeito é dado nessas condições externas, como ele pode se assenhorar delas, dominando-as e alterando-as? Tanto em um pensamento quanto no outro, há a crença em uma intervenção humana que deve alterar o real para dominá-lo e dele usufruir. Já em Heidegger, esse anseio por intervenção e domínio é bastante rejeitado uma vez que o pensador alemão se volta para uma crítica sobretudo da técnica moderna que se concretiza com o fito do domínio e alteração do meio natural. O homem deveria desvelar as coisas mediante um processo de familiarização e não de domínio. Vincula, pensar, linguagem e fazer em uma poiesis. Trata-se, portanto, de um pensamento que visa ao descentramento radical da subjetividade e a revisão de seus poderes de objetivação representacional, preparando, assim, um outro caminho para o homem, menos violento e dominador, ou seja, aponta uma outra escolha ética.

       Outra dimensão da linguagem a ser criticada em Heidegger é a sua vida cotidiana em que ocorrem as relações superficiais e que não dão conta de um pensar e um dizer sobre as relações mais profundas entre os homens e os homens e as coisas. Devemos nos retirar quando possível desse falatório social que se constitui de modo superficial, mecânico, informacional, muito colado ao imediato. A linguagem reflexiva deve ser uma experiência meditativa com a linguagem e isso é um processo lento, moroso, não mecanicista e que requer serenidade, longe do burburinho cotidiano. Para Heidegger, tão pouco a linguagem não é um sistema de signos que se relacionam entre si por oposição e semelhança e que se impõe ao indivíduo falante, sendo exterior às coisas e ao sujeito. Para ele a linguagem é “a morada do ser”, ou seja, ele vincula a linguagem ao pensamento e ao ser da coisa e não é possível haver uma definição precisa das coisas a partir dessa linguagem. Falar é pensar e não só um agir sobre as coisas, como ocorre com a linguagem técnica. A linguagem é pensamento também, não é só um fazer. Uma das perguntas capitais de Heidegger é a pergunta pelo ser das coisas. Ele afirma que em nosso pensamento ocidental, nos esquecemos do ser, permanecendo no reino das coisas, do ôntico. O anseio de domínio, de definição, de alteração técnica do mundo, nos levou a manipular as coisas a partir de pensamento, métodos e técnicas que desvelam as coisas de um modo monológico para delas se apropriar. Isso levou a um esquecimento do ser que na realidade. Na sociedade contemporânea a Heidegger, isso se exacerba, sendo o domínio da técnica, do ôntico. Por isso que o ser se enfraquece e vários são os pensadores que destacam a morte do sujeito e o reino das coisas. Exemplo disso é o pensamento de Michel Foucault que assevera que o homem está morto, lembrando Heidegger quando atesta que o homem está em vias de desaparecer visto que se tornou um objeto dado só no transcendental empírico, ou seja, como corpo, como trabalhador e como assujeitado a uma linguagem à qual deve se assujeitar. Aqui vemos uma diferença capital entre Heidegger e o Círculo, sobretudo Bakhtin quando este assevera a importância da Ideologia do Cotidiano em que as múltiplas falas e posições axiológicas ocorrem no concreto da existência humana. O pensador russo destaca a importância dessa esfera social menos afeita à camisa de força do ordenamento das forças centrípetas como ocorre com as ideologias já constituídas e mais petrificadas. Todavia, para Bakhtin, a Ideologia do Cotidiano não se circuncreve ao contexto imediato somente, mas carrega valores de longa duração de uma dada episteme. Essa dimensão é importante para o Círculo que, no momento em que escrevem, estão circunscritos a ideologias oficiais stalinistas que censuram, ordenam e proíbem a circulação de vozes sociais não condizentes com o regime. Heidegger ataca o falar do cotidiano em outra dimensão, no que tange mormente ao meramente informacional. Essa visão heideggerana é bem relevante para a nossa época em que, sobretudo na Ágora Virtual das redes sociais, o sujeito fala sem parar, sem profundidade, sem reflexão mormente, expressando-se de modo muito rápido, superficial, informacional.

       A concepção de alétheia, ou seja, da apresentação em um velar e desvelar das coisas, leva necessariamente a uma perspectiva de alteridade, ou seja, há um outro que me é irredutível. No entanto, entro em co-existência com esse outro à medida que o vejo diferente de mim e a mim irredutível. Essa concepção obviamente passa pela questão da linguagem, vendo-a como integrada nesse percepção do outro enquanto outro. Daí que a linguagem não é um sistema lógico -formal de signos que se dão em um sistema exterior ao sujeito e do qual o sujeito se apossa para falar e dizer as coisas de modo claro e preciso. Também não é um idioleto com o qual imponho o meu dizer ao mundo, sendo fonte exclusiva do sujeito em uma posição relativista. Essa concepção heideggeriana de outro, traz consigo implicações de caráter ético, pois permite pensar a possibilidade de um genuíno acolhimento do outro como outro. Tenho que estar aberto à linguagem que não é minha, mas do outro, tenho que escutá-la e escutar o outro para falar com ele e não sobre ele. A linguagem está em mim e no outro; ela nos antecede. Devo escutá-la para experiência-la. Aí temos uma ontologia fundamental do ser, da linguagem e do outro. O acolhimento do outro possibilita uma apropriação do dizer e da escuta que me antecede e que, por sua vez, torna possível uma ética para o outro com quem coexisto no mundo.A linguagem é uma ponte entre mim e o outro. Vai me familiarizar com o outro. Contra uma dimensão ôntica da linguagem e favorável a uma perspectiva ontológica. Bakhtin bem diz que vivemos nas palavras do outro e ao outro respondendo, comprovando-se mais uma aproximação.

       Na conferência intitulada "O caminho para a linguagem", dos anos 50, Heidegger afirmará que falar não é o mesmo que dizer, pois se pode falar muito sem nada dizer; por outro lado, ao calar-se e silenciar, alguém pode dizer muito. Dizer significa mostrar, deixar aparecer, deixar ver e deixar ouvir. Falar com os outros significa, portanto, dizer algo de algo conjuntamente, mostrar algo reciprocamente, trazer algo ao resplendor da aparência. Para Heidegger, só é possível estar em casa no mundo moderno técnico-científico por meio de um pensamento e de uma linguagem da reflexão, reconhecendo que nosso pensamento calculador e nossa linguagem mais familiar, cotidiana e imediatamente compreensível, a linguagem da prestação de contas, já não fazem senão consolidar o " esquecimento do ser". Dessa maneira, o homem não apenas "tem" linguagem e mundo, como se afirma nas definições antropológicas tradicionais, mas "se constitui" no mundo e "na" linguagem. Para o círculo a linguagem tem dimensão ontológica, inclusive se opondo ao Marxismo que aposta no trabalho e na t+ecnica como centrais ao homem, diferenciando-o dos animais e se esquecendo da linguagem.

       Do mesmo modo, também não sabemos nos relacionar com o outro, preservando a distância na proximidade, isto é, não nos ocultamos na proximidade para deixar que o outro exista. Nesse sentido essa aproximação e essa distância simultâneas se conectam com a perspectiva dialógica em que há encontro e desencontro com o outro. Nenhum dos polos pode ser anulado, mas existem em interação. Para Heidegger o que importa é "aproximar-se, sem contudo, deixa de perceber que o outro é outro. O mesmo ocorre em Bakhtin. A aproximação deve aproximar o distante enquanto distante; ao aproximar o distante mantendo a distância, o próximo se aproxima ocultando-se, para assim permanecer como o mais próximo, mas preservando a sua autonomia.

       Esses são alguns pontos de semelhança levantados até o momento. As referências bibliográficas serão apresentadas posteriormente.