Maria Inês Batista Campos / USP

A noção de arquitetônica em Bakhtin: retomada e refutação da proposta kantiana

Resumo
Nesta comunicação, nosso objetivo é examinar a compreensão do ato ético e estético na concepção da arquitetônica bakhtiniana, buscando recorrer às fontes primeiras. A finalidade é compreender os embates éticos e estéticos que o homem vive como um ser mergulhado no seu tempo e espaço e comprometido com a sua cultura. No início da década de 1920, a obra de Mikhail Bakhtin teve por base uma investigação dedicada à arquitetônica do mundo real e cotidiano, não teorizado, mas “vivenciado” pela ótica do eu-para-mim, do outro-para-mim e do eu-para-outro. Embora esse importante conceito filosófico não tenha sido realizado por completo, a concepção de linguagem bakhtiniana considera a relação intersubjetiva entre o eu e o outro, uma vez que nossas palavras sempre são respostas a palavras de outros, presentes de forma marcada ou constitutiva em nosso discurso, provocando novas respostas a interlocutores diversos. Conceitos como dialogismo e discurso bivocal materializamo pensamento bakhtiniano, que não pode ser monológico. A arquitetônica das relações dialógicas compreende não só a ética, mas também uma visão estética que se fundamenta no excedente de visão que o outro tem de mim. Desse modo,o conceito de arquitetônica reúne premissas dialogicamente constituídas que pode ser uma boa chave teórico-metodológica para dar encaminhamento a leituras de textos verbais e verbo-visuais. Bakhtin elaborou extensamente essa reflexão filosófica sobre a arquitetônica nos seus primeiros ensaios. Inicia com“Arte e responsabilidade” (1919); Para uma filosofia do ato responsável(1920-1924); a seguir “O autor e a personagem na atividade estética” (1922-1924), publicado em português parcialmente (Estética da criação verbal), e o ensaio “O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária” (1923-24). Nessa perspectiva filosófica, vamos recuperar o tenso diálogo bakhtiniano com o conceito de arquitetônica retomado da obra de I. Kant A crítica da razão pura (1781), sua aproximações e refutações.

 

Palavras-chave: Arquitetônica; Conhecimento; Filosofia do ato; Seminários kantianos.