A noção de arquitetônica em Bakhtin:
retomada e refutação da proposta kantiana
Resumo
Nesta comunicação, nosso objetivo é examinar a compreensão do ato ético e
estético na concepção da arquitetônica bakhtiniana, buscando recorrer às fontes
primeiras. A finalidade é compreender os embates éticos e estéticos que o homem
vive como um ser mergulhado no seu tempo e espaço e comprometido com a sua
cultura. No início da década de 1920, a obra de Mikhail Bakhtin teve por base
uma investigação dedicada à arquitetônica do mundo real e cotidiano, não
teorizado, mas “vivenciado” pela ótica do eu-para-mim, do outro-para-mim e do eu-para-outro.
Embora esse importante conceito filosófico não tenha sido realizado por
completo, a concepção de linguagem bakhtiniana considera a relação
intersubjetiva entre o eu e o outro, uma vez que nossas palavras sempre são
respostas a palavras de outros, presentes de forma marcada ou constitutiva em
nosso discurso, provocando novas respostas a interlocutores diversos. Conceitos
como dialogismo e discurso bivocal materializamo pensamento bakhtiniano, que
não pode ser monológico. A arquitetônica das relações dialógicas compreende não
só a ética, mas também uma visão estética que se fundamenta no excedente de
visão que o outro tem de mim. Desse modo,o conceito de arquitetônica reúne
premissas dialogicamente constituídas que pode ser uma boa chave
teórico-metodológica para dar encaminhamento a leituras de textos verbais e
verbo-visuais. Bakhtin elaborou extensamente essa reflexão filosófica sobre a
arquitetônica nos seus primeiros ensaios. Inicia com“Arte e responsabilidade”
(1919); Para uma filosofia do ato
responsável(1920-1924); a seguir “O autor e a personagem na atividade
estética” (1922-1924), publicado em português parcialmente (Estética da criação verbal), e o ensaio
“O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária”
(1923-24). Nessa perspectiva filosófica, vamos recuperar o tenso diálogo
bakhtiniano com o conceito de arquitetônica retomado da obra de I. Kant A crítica da razão pura (1781), sua
aproximações e refutações.
Palavras-chave: Arquitetônica; Conhecimento;
Filosofia do ato; Seminários kantianos.