Beth Brait / PUCSP-USP

Anos 1970: memória e história

Resumo
A memória da ditadura militar brasileira ressoa fortemente em discursos que estão em circulação há meio século, ou seja, desde 1964, ano que marca o início dos pesados anos de chumbo. Esses discursos, advindos de diferentes campos da cultura brasileira, legaram à memória coletiva, dentre muitos outros aspectos, contornos da figura militar, que se impôs, voluntaria e ferreamente, como sujeito que se apropriou, sem qualquer legitimidade, dos destinos nacionais. Para dar conta do universo social e humano envolvido nessa história, a esfera literária produziu um conjunto de discursos em que o sujeito militar, passando à condição de protagonista, é entrevisto tanto na proximidade dos acontecimentos, caso de textos produzidos na própria década de 1970, como na distância de algumas décadas, como o fizeram alguns autores no século XXI.

Nesta exposição, o objetivo é mostrar de que maneira a figura militar, o protagonista e metonímia dos anos de chumbo, é construída em alguns discursos que, sendo literários e/ou poéticos, ancoram-se em fontes documentais e jornalísticas, mas se afastam delas para, estética e eticamente, refletir e refratar um dado momento da história do Brasil que, de certa forma, se confunde com uma história latino-americana. Trata-se de parte de resultados de uma pesquisa maior que se volta para a análise das formas de relação entre o discurso monológico da ditadura e discursos que a ele se opõem, embate travado em obras que dão contorno, concretizam e dimensionam essa arena discursiva na confluência ficção, história e memória. Para esta apresentação, foram escolhidas três obras literárias em que a reconstrução da figura militar será entrevista especialmente, mas não exclusivamente, por algumas das lupas oferecidas pelo pensamento bakhtiniano, aí incluído o ensaio “O autor e a personagem na atividade estética”, de Mikhail Bakhtin. A primeira intitula-se “O general está pintando”, conto de Hermilo Borba Filho; a segunda é um excerto do romance A festa, de Ivan Ângelo, e o terceiro é um dos contos/fragmento do romance K, de Bernardo Kucinski.

Palavras-chave: Memória; História; Discursos literários; Identidade nacional.