Dimensão ontológico-hermenêutica no pensamento ético bakhtiniano e heideggeriano e construção do sentido

Resumo
O presente trabalho tem por objetivo problematizar e discutir a dimensão ontológico-hermenêutica, no pensamento bakhtiniano e heideggeriano, na atividade ética, e seus desdobramentos na construção do sentido do Ser-evento/Ser-aí. Nossa abordagem de análise consistirá em evidenciar as relações dialógicas estabelecidas entre os enunciados concretos e os discursos contidos no pensamento de ambos os filósofos. Na análise do ser-no-mundo, foram considerados dois elementos existenciais de sua dinâmica: a tonalidade afetiva  que revela seu dever-ser constitutivo, e a compreensão, através da qual o sentido do ser aparece, realizando-se sempre no fenômeno da interpretação, possibilitando, assim, a manifestação do real. O mundo da vida é essencialmente o horizonte do sentido e é a partir dela que cada ser humano constrói sua unicidade: a essência do Ser-aí (Dasein), em Heidegger, está na sua própria existência: trata-se de um dever existencial de ser responsável por si mesmo, de elaborar a si mesmo na vida fática, na dependência constitutiva dos entes que compreendem a totalidade do real e pelos quais também é responsável; em Bakhtin, é apenas no ato realmente executado, em sua unicidade e responsabilidade, que o Ser único, em sua realidade concreta, pode ser abordado. Resulta daí que, para Bakhtin, não pode uma Filosofia primeira pretender construir conceitos e leis universais sobre o mundo do ato responsavelmente realizado: ela deve ser apenas uma descrição, uma fenomenologia desse mundo. Da mesma forma,  Heiddeger critica a obcessão pelo método como instância legitimadora do conhecimento, sugerindo que o modo de acesso e interpretação do ente deve permitir que ele mostre a si mesmo, desde si mesmo, como uma forma de desocultamento, ou seja, como conteúdo originário da noção de verdade.

Palavras-chave: Ontologia-hermenêutica; Ética; Bakhtin; Heidegger ; Construção do sentido

Hermeneutic-ontological dimension in the ethical thinking of Bakhtin and Heidegger and construction of the Sense

Abstract
This paper aims to problematize and discuss the ontological-hermeneutical dimension, in Bakhtin and Heidegger´s thinking, in ethical activity, and its developments in the construction of the sense of Being-event/Dasein. Our analysis approach will be to highlight the dialogic relations established between concrete statements and speeches contained in the thought of both philosophers. In the analysis of Being-in-the world, two existential elements of its dynamics have been considered: the affective tone that reveals her must-be constitutive, and understanding, through which the sense of Being appears, carrying always the phenomenon of interpretation, thus enabling the expression of the real world. The world of life is essentially the horizon of meaning and it is from her that every human being builds his uniqueness: the essence of Being-there (Dasein) in Heidegger, is in its very existence: it is a duty of existential be responsible for oneself, to draw to itself the factual life, depending on the constituent entities that comprise the totality of reality and by which is also responsible; in Bakhtin, is really just the act performed in his uniqueness and responsibility that Being unique, in its concrete reality, can be addressed. It follows that, for Bakhtin, a first Philosophy cannot attempt to construct universal laws and concepts about the world of the responsible act which is responsably performed: it should only be a description, a phenomenology of this world. Similarly, Heidegger criticizes the obsession of the method as legitimating instance of knowledge, suggesting that the mode of access and interpretation of being should allow it to show itself from itself, as a way of unveiling, i.e. as originary content of the notion of truth.

Keywords: Hermeneutic-ontological dimension; Ethics; Bakhtin; Heidegger; construction of the sense