Título: A filosofia ética de Bakhtin como a base de sua teoria discursiva: Ontologia e Valoração

Participante: Adail Ubirajara SOBRAL (PPGL – UCPEL)

RESUMO

A filosofia ética de Bakhtin tem como um de seus componentes essenciais uma ontologia dialógica que não vê sujeitos “em geral”, mas sujeitos particulares, situados na sociedade e na história, sujeitos interagentes que se definem, em seus atos, mediante sua “assinatura” autoral, na vida, na arte, no discurso. Essa filosofia se concentra na ideia de que a identidade é um processo constante de autoconstituição de cada sujeito, em um contato inevitável com outros sujeitos, em situações concretas, e não uma essência etérea, já e sempre presente. O fato de que a subjetividade vem da intersubjetividade e de que o "não-eu" é vital para o eu se definir é o núcleo do dialogismo ético de Bakhtin, apontando para a impossibilidade de dar uma resposta definitiva (embora sempre tentemos fazê-lo com a nossa atitude responsiva) ao Ser Absoluto (o ser essencial) e ao Sentido Absoluto (o sentido essencial) como tais. Pretende-se aqui explorar as bases filosóficas da arquitetônica bakhtiniana referente ao princípio dialógico, às concepções de identidade e intersubjetividade, à avaliação social, à responsabilidade ética e ao relacionamento entre os sujeitos na sociedade e na história, a fim de demonstrar que a concepção bakhtiniana de enunciação, ao sustentar que os sentidos instaurados pelos atos enunciativos são sempre sentidos valorados implica que estes não podem ser entendidos sem a devida consideração do estatuto ontológico dos sujeitos em interação, estatuto de cunho social e histórico.

PALAVRAS-CHAVE: Filosofia ética; ontologia dialógica; valoração; enunciação

 

BAKHTIN’S ETHICAL PHILOSOPHY AS THE FOUNDATION OF HIS DISCURSIVE THEORY: ONTOLOGY AND VALUATION

ABSTRACT

Bakhtin’s ethical philosophy has a dialogic ontology as one of its essential component, an ontology that does not see subjects “in general”, but particular subjects situated in society and history, interacting subjects who define themselves, in their acts, by means of their authorial "signature", in life, in art, in discourse. This philosophy centers on the idea that identity is a constant process of self-constitution of each subject, in an inevitable contact with other subjects, in concrete situations, and not an ethereal essence, already and always present. The fact that subjectivity comes from intersubjectivity and that "not-I" is vital for “I” to become is the nucleus of this ethical dialogism, pointing to the impossibility of giving a definite answer (although we always try to do it with our responsive attitude) to Absolute Being (the essential being) and to Absolute Sense (the essential sense) as such. This work intends to explore the philosophical bases of the Bakhtinian architecture regarding the dialogic principle, the conceptions of identity and intersubjectivity, social evaluation, ethical responsibility and the relationship among subjects in society and in history in order to show that the Bakhtinian conception of enunciation, by supporting that senses set up by enunciative acts are always value-laden, implies that these cannot be understood without the proper recognition of the ontological statute of subjects in interaction, a social and historical statute.

KEYWORDS: ethical philosophy; dialogical ontology; evaluation; enunciation; Bakhtin