Sandra Mara Moraes Lima (Doutoranda – PUC-SP)

O trabalho apresenta a pesquisa de tese que se propõe analisar uma das vozes que compõem o discurso de Riobaldo, personagem-narrador do romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. A análise se pauta na voz da figura materna, uma vez que constatamos haver uma presença determinante dessa voz que, embora representando a mulher pobre, mestiça e totalmente desprovida de poder e prestígio social, será reverenciada pelo narrador do romance, tomando corpo em seu discurso.

O objetivo, assim, é investigar e demonstrar que essa voz é preponderante na instauração do sujeito materializado nesse discurso e determinante na condução do enredo, na travessia empreendida por Riobaldo. A análise será fundamentada na perspectiva dialógica do discurso, apresentada por Bakhtin e o Círculo. Para proceder-se à análise foi efetuado um recorte dos trechos em que o narrador menciona a mãe, situando as referências na sequência da narrativa, na linearidade do enredo e em relação ao tempo/espaço (cronotopo) correspondente à ação relatada.

A partir das marcas enunciativas e discursivas, que fazem ancorar a presença materna no discurso de Riobaldo, será utilizada, como categoria de análise, as formas de presença da palavra alheia no discurso, situando a voz materna como uma palavra autoritária no discurso de Riobaldo e como elemento primordial no estabelecimento do cronotopo romanesco.

Assim, os conceitos bakhtinianos de discurso, palavra autoritária, dialogia, polifonia, ato discursivo, cronotopo, bem como a concepção de sujeito pressuposta por essa teoria, funcionam como bases para analisar o discurso de Riobaldo, situando a figura materna e demonstrando, assim, que na travessia efetuada a mãe está incorporada preponderantemente no corpo discursivo de Riobaldo.