Rodrigo Fernando Assis dos Santos (Mestrando – PUC-SP)

Este trabalho discute o conceito de língua/linguagem em 1984 de George Orwell e relaciona esse conceito com o da línguísticaoficial russa das décadas de 1920/1930. Ao pesquisarmos a políticalinguística oficial russa das décadas de 1920 e 1930, descobrimos um projeto de destruição das línguas existentes e de criação de uma língua única parecido com o que é proposto na ficção orwelliana.

Ao consultarmos a fortuna crítica que tratou das questões de linguagemna obra 1984 e a que tratou dessas mesmas questões na escola marrista, não encontramos nenhuma relação entre a novilíngua e a línguaúnica mundial de Marr. Frente a isso, surgiu a motivação da presente pesquisa, que buscou estabelecer relações dialógicas entre esses duas concepções de linguagem, até então inexistentes.Nosso objetivo de pesquisa, portanto, é descrever, analisar e interpretar, por meio da materialidade linguístico-discursiva da novilíngua, os discursos históricos que atravessam a obra e, a partir daí, estabelecerrelações dialógicas entre o conceito de língua/linguagem de 1984 e esse mesmo conceito na linguística oficial russa das décadas de 1920/1930.

Este trabalho está embasado pela teoria bakhtiniana, que discute a linguagem pelo seu viés sócio-histórico ideológico. Utilizamos os conceitos de axiologia, signo ideológico, infraestrutura e superestrutura, dialogismo, forças centrípetas e centrífugas.Nossa metodologia para composição do corpus e descrição da novilínguaobedeceu à seguinte dinâmica: a) descrever o processo de destruição da língua vigente para a construção da novilíngua, b) levantamento das palavras emnovilínguaem toda a narrativa; c) construção de um glossário que contém a definição das palavras em novilíngua.

Os nossos resultados mostram que a linguagem humana,tanto na vida como na arte, é capaz de criar mecanismos compensatórios que atenuam e anulam as forças que querem acabar com o plurilinguísmo e assim manter a linguagem humana, mesmo sob forte coerção de sistemas políticos totalitários, pluriacentuada e ideologicamente saturada.