Maria Auxiliadora de A. V. Filha & Marcos Antônio Moura Vieira

No âmbito da Reforma Psiquiátrica Brasileira, está colocada uma nova proposta de assistência à saúde mental. Um dos serviços substitutivos ao modelo de atenção psiquiátrico-hospitalocêntrico é o Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) que recebe regularmente crianças e adolescentes encaminhados pela escola. Nosso trabalho tem como objetivo investigar os gêneros discursivos desenvolvidos nessa complexa atividade de cuidar da saúde mental de crianças da escola a partir da situação de trabalho instaurada na interface da saúde com a educação.

Ao focalizar os diálogos entre as escolas e o CAPSi, nos alinhamos à perspectiva teórica do dialogismo bakhtiniano para estudar as práticas discursivas implicadas nesse novo paradigma de assistência. Dessa forma, recorremos a um desenho metodológico que correlaciona as noções do campo da Lingüística Aplicada às situações de trabalho que situam as relações de interação e diálogos no processo de realização das atividades humanas e, a Análise Dialógica do

Discurso de vertente bakhtiniana, cujas noções de dialogismo e gêneros do discurso são as principais ferramentas para a análise dos diálogos mobilizados entre o CAPSi e a escola. Mais especificamente os gêneros discursivos da atividade de encaminhamento de crianças são mobilizados em duas situações específicas do diálogo da escola com o CAPSi. A primeira situação de trabalho, da escola para o CAPS X, revela os efeitos de sentido de encaminhar o aluno “problema” versus receber o aluno “paciente”; a segunda situação de trabalho, do CAPS X para escola, revela os sentidos de avaliar o “aluno-paciente” versus reencaminhar o “aluno” ou “paciente. Os nossos resultados indicam que, nas duas direções da circulação do sentido, predomina a ideologia biomédica da separação entre saúde e doença, embora nos discursos da prática cotidiana, no CAPSi, circulem sentidos da ideologia biopsicossocial.