Diego Aparecido Alves Gomes Figueira(Universidade Federal de São Carlos –FAPESP)

Este trabalho se propõe a estudar algumas características particulares das histórias em quadrinhos, especialmente as de aventura e super-heróis, em que certas temáticas e tendências de estilo se relacionam com a atividade de colecionar revistas. Segundo o crítico norte-americano Douglas Wolk (2007), para o colecionador de quadrinhos, cada revista mensal representa um pequeno capítulo de uma história maior, que teve início décadas atrás e que é virtualmente infinita. O gênero atualmente parece privilegiar essa forma de leitura, em que o leitor aprecia cada edição à luz de todo conhecimento sobre aquele cenário e enredo grandiosos que acumulou junto com sua coleção. Este “conhecimento de fã” torna-se parte do processo criativo, na medida em que autores baseiam-se nele para criar enredos de obras que remetem a uma pretensa tradição, construída por esse discurso sobre quadrinhos.
As obras criadas de acordo com esta tendência caracterizam-se pelo uso da metalinguagem, combinando fatos do mundo real na esfera da produção de quadrinhos com enredos de outras histórias desse cânone recontadas de um novo ponto de vista. Tanto a memória dos fatos da esfera de atividade de produção e circulação de quadrinhos quanto a “história interna” das revistas são formadas, principalmente, no interior de uma mídia especializada em histórias em quadrinhos.
Nesta pesquisa buscamos compreender como se dá este fenômeno discursivo através de uma análise das relações que leitores, autores, editores e críticos de quadrinhos estabelecem entre si e com o material em questão e como essas relações têm efeitos nas obras que apresentam este tipo de discurso. Para isso, nos baseamos principalmente na teoria lingüística de Mikhail Bakhtin, especialmente no que se refere às questões dos gêneros do discurso, da relação autor-herói e a teoria dialógica do texto.