Nathália Rodrighero Salinas Polachini (USP–IC)

A descrição dos "fatos" históricos, legitimada pelos documentos oficiais e veiculada no âmbito escolar por meio dos livros didáticos, representa uma construção do passado influenciada pelos valores e ideologia do presente. Partindo da relação entre língua e poder, tal como proposto por Foucault (1981), o presente trabalho dedicou-se em analisar a abordagem didático-descritiva transposta no livro didático de História "Compêndio da História do Brasil", escrito por Antonio José Borges Hermida e publicado pela Companhia Editora Nacional em 1966. O objetivo foi analisar criticamente como o autor representa e constrói "o outro" e a "outra" cultura por meio da língua escrita e das imagens presentes no livro.

Para tanto, foram selecionados alguns textos que tratam do contato do colonizador português com o índio nativo e com os negros africanos trazidos como escravos para o Brasil.
Focando na representação do índio e do escravo, e, reconhecendo o sujeito da enunciação como constitutivamente dialógico (Bakhtin, 2003), pretendeu-se analisar como a linguagem e suas implicações ideológicas incorporadas no discurso são usadas pelo autor com o objetivo de tornar sua descrição histórica como a portadora da "Verdade", e, assim, mostrar que não há história sem interpretação. Os resultados puderam mostrar que o autor faz uso de uma descrição estigmatizada do "outro". Além disso, pôde se averiguar como o poder pode operar por meio dos discursos e como o livro didático de história, como um instrumento pedagógico, serviu como mecanismo de controle ideológico nas escolas públicas do Brasil ditatorial dos anos 60.