Elaine Hernandez de Souza (PUCSP/bolsista CAPES)

Esta pesquisa pretende identificar os discursos sobre a atividade artística na composição verbo-visual da fábula “A cigarra e as formigas”, assinada por Monteiro Lobato e André Le Blanc, levando em consideração a dupla orientação discursiva dos autores-criadores como elemento que engendra a perspectiva irônica na construção da temática investigada. Os olhares distintos para a “mesma” fábula, que é dividida em “A formiga boa” e “A formiga má”, são gerados nos contrastes entre as atividades da cigarra e a da formiga e, por essa razão, a análise do texto verbal contempla as designações avaliativas dessas atividades ou relacionadas a elas, por substantivos, verbos, advérbios modificadores (de modo e de intensidade) e adjetivos qualificativos (NEVES, 2000). Do mesmo modo, a análise da ilustração contempla os elementos psicofisiológicos da sintaxe visual, concernentes à percepção de valor: tensão; nivelamento e aguçamento, ângulos superior e inferior (DONDIS, 1973/1997). O posicionamento discursivo dos autores-criadores, por sua vez, é observado na arquitetura irônica do texto, que é compreendida a partir de uma perspectiva enunciativo-discursiva (BRAIT, 1996). Nesse sentido, esta abordagem está ancorada na concepção de linguagem, desenvolvida pelo Círculo bakhtiniano, em especial na obra Problemas da poética de Dostoiévski (BAKHTIN, [1929]2005), onde Bakhtin situa os estudos do Círculo no âmbito da língua em uso, enunciada por sujeitos sócio-histórico-culturais a partir de determinados ângulos axiológicos. Assim, na materialidade verbo-visual discursiva desta fábula, é possível observar a arquitetura irônica como um recurso enunciativo-discursivo que representa a atividade artística em sua complexidade, já que esse construto permite a relativização dos estereotípicos de crueldade e avareza da formiga e de displicência da cigarra, advindos de algumas leituras do texto clássico.