Anderson Salvaterra Magalhães (PUCSP/ bolsista CNPq)

Este trabalho consiste de um recorte de uma pesquisa em desenvolvimento sobre os processos de subjetivação implicados em reportagens premiadas de um jornal impresso carioca. Reconhecendo a construção sócio-histórica da tensão subjetivação vs. objetivação como fundamental para a produção jornalística, discute-se como reportagens impressas lidam com o desafio de tratar de temas já anteriormente explorado pelos meios eletrônico e digital e de que modo articulam os processos de subjetivação que as atravessam.
Partindo de um ponto de vista dialógico de linguagem (BAKHTIN 1963/2005, 1975/1998, 1979/2003; BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1929/1999), entende-se a produção jornalística nos dias de hoje como um ato ético (BAKHTIN, 1919/1993) editorial/institucional que não apenas diz da realidade objetiva, mas também a constitui discursivamente, consolidando valores que a atravessam e que ela faz circular. Dessa perspectiva, a tensão subjetivação vs. objetivação não encerra uma oposição, e sim uma articulação enunciativo-discursiva, e os estudos sobre a produção jornalística têm como desafio descobrir os mecanismos discursivos referendados sócio-historicamente na e pela esfera em que tais enunciados circulam. Compreender a produção jornalística como ato ético tem um desdobramento particular na contemporaneidade, momento marcado pela flutuação da noção de sujeito (DUFOUR, 2004), suspensão da idéia de verdade como base da organização cultural (AMORIM, 2007) e o conseqüente apagamento das questões éticas.
Escolhemos para este trabalho analisar uma série de reportagens do jornal O Dia que trata do problema do transporte público na região metropolitana do Rio de Janeiro para ilustrar como a visualidade da reportagem desvela um posicionamento editorial que dá um duplo tratamento ao objeto enunciativo: ora o constrói como objeto apenas falado, ora o constrói como objeto falado e falante. Esse tratamento diferenciado aponta para processos de subjetivação legitimadores da editoria, que referenda uma postura passiva e submissa da população em relação ao poder instituído.