Adriana Pucci Penteado de Faria e Silva (PUCSP/bolsista CNPq)

A(s) pessoa(s) que fala(m) nos relatórios

Neste trabalho, recorte de nossa pesquisa de doutorado, objetivamos identificar  em relatórios de atendimento psicopedagógico interlocutores imediatos e  vozes que atravessam seus discursos. Temos  como premissa que o registro do atendimento clínico compõe a atividade do psicopedagogo. A partir dos registros, podem-se elaborar relatórios, documentos que são nosso objeto de estudo. Nosso corpus é formado, inicialmente,  por documentos relativos ao caso Clarice (nome fictício), produzidos por estagiários do curso de Especialização em Psicopedagogia da COGEAE  PUCSP, entre 2004 e 2005. Tais documentos são confrontados com os de mais dois casos atendidos por alunos da disciplina Diagnóstico Psicopedagógico, do já citado curso, no primeiro semestre de 2008. Para estabelecer características gerais desses enunciados concretos, tecemos algumas reflexões sobre os relatórios como pertencentes a um gênero do discurso, conforme teoria de Bakhtin e seu Círculo. Propomos uma descrição da atividade do psicopedagogo e um levantamento sobre a literatura que trata da escrita do atendimento clínico. Em nossas análises preliminares, observamos que há estabilidades quanto ao estilo, ao tema e à forma composicional  e identificamos a oscilação entre a descrição narrativa da sessão e a transcrição direta dos diálogos entre cliente e psicopedagogo. Apresenta-se, portanto, como primeiro enunciador desses documentos o estagiário que  os elabora, voz do discurso narrativo. Sua presença é, por vezes, evidenciada no discurso citado por marcas textuais como a pontuação. A identificação desse narrador esclarece os ângulos dialógicos pelos quais as vozes do discurso se encontram. O sujeito da Psicopedagogia, concebido como uma complexa articulação entre inteligência, desejo, organismo e corpo,  não coincide com o sujeito da análise dialógica do discurso. No entanto,  a clareza sobre “quem fala” nos relatórios, depreendida da análise discursiva,  pode levar seu principal destinatário, o próprio psicopedagogo ou seu supervisor, a depreender características da faceta social e histórica do sujeito em atendimento.